Ó fogo imenso!
Ó fogo imenso, que quando usado malevolamente tudo destróis e consomes! Ó fogo imenso, sarsa ardente que nos aqueces e nos inquietas!
Incêndios e mais incêndios. Mais um flagelo e desmazelo para todos. Pessoas, casas, natureza sofrem com o fogo arrebatador e devastador que arde e queima o país, lés a lés. Seria de evitar a constatação real de que "o que arde queima". Quantas aflições e manobras se envolvem no meio da mata imensa, da floresta revestida, dos bosques descobertos...
Não há ano em que não se fale de prevenção e de cuidados, no entanto, a situação continua por resolver. Promessas e mais promessas, governo após governo (seja ele qual for): sinais incapazes de resolução. Não será mais que prioritário este problema sazonal? Que interesse há, para quem pode, não tomar as devidas providências e não investir no equipamento necessário ao combate dos incêndios?
Fala-se tanto em crise disto e daquilo. Até isto é uma crise, dizem alguns. Consideraria mais falta de gestão, pois note-se que acaba por haver sempre dinheiro para o que se quer. Aí não há crise. Comprovam-nos os dados e as estatísticas do mercado e do exacerbante consumismo nacional. Tantos e tantos excedentes que agravam e denigrem a situação socio-económica e político-cultural do país. Vejamos: para que foram tantos estádios para o Euro 2004, se menos chegavam? Para quê o aeroporto da Ota? Para quê obras e mais obras no alargamento de estradas boas e com pontes construídas? Para além do transtorno que trazem, denotam falta de critérios e de planeamento. Que gestão incontrolada e desequilibrada! São gastos dispendiosos que melhor atribuir-se-iam no combate aos fogos, ao desemprego, à erradicação da pobreza, e adiante...
Para além desta inércia e apatia governamental agrava-se o estado clínico desta labareda fogosa e geral que flagra em locais estranhos, dada a posição geográfica. Se outrora não se desconfiava de nada mais do que o intenso calor, pioneiro destas calamidades, hoje não se pode dizer o mesmo. Incendiários houve: os que foram apanhados coube-lhes a reclusão. A melhor prisão para eles era limpar e vigiar as matas. Incendiários há agora que não se descobrem, mas um certo "fumo" paira no ar, todo ele alarmante e de bradar aos céus. E se "fumo" há, ou seja, rumores que se levantam, é porque há alguma razão, há indícios, há fuga de informação...
Enquanto que no ano transacto constava haver conivência com os madeireiros, este ano consta uma cumplicidade com a(s) empresa(s) de aviões/avionetas com água que têm estado no apagamento das chamas. Dizem que não ganham tão pouco quanto se pense... Se é verdade ou não, não sei... O que sei é que mesmo com um tempo mais frio e húmido, em certas zonas, ainda há fogos por eliminar.
Ó fogo imenso, que te manifestaste na tarde pentecostal, vem ajudar-nos e transforma o fogo do mal em fogo vivificante do Espírito divino.
André Rubim Rangel